João-de-barro e a nidificação em redes elétricas: um problema?

Por Débora Malu Marquato, Eduardo de Farias Geisler, Lucas de Souza, Mateus Rachewsky de Alencar 

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Por acaso você já notou em algum poste, sinaleira ou árvore, uma casinha redonda  lembrando um forninho? É o ninho do joão-de-barro ( Furnarius rufus ), um dos pássaros  mais populares do Brasil. Seu nome científico significa, do latim, ave vermelha  construtora de fornos ( Furnarius : forno de padaria; rufus : vermelho); já que seu dorso  é avermelhado e constrói seu ninho de barro em formato de forno. 

Este pássaro habita espaços abertos como campos e savanas com árvores sem  muita cobertura, e por isso tem se adaptado muito bem para viver em paisagens modificadas pelos  humanos, e vem ampliando seus limites em regiões que ocorreram grande desmatamento.  Eles são muito abundantes nas fazendas do sul do Brasil, assim como em parques e nas  próprias cidades, construindo seus ninhos em postes de luz, sinaleiras, árvores e até mesmo em janelas. 

Falando um pouco sobre os ninhos de joão-de-barro, as típicas construções que  vemos por aí dos nossos pequenos passarinhos são usualmente feitas de barro, um pouco  de palha e, àsvezes,até mesmo esterco úmido. O regime de chuvas colabora muito para a construção do ninho, como você já deve ter reparado, aquela lama criada após  as chuvas geralmente endurece e funciona como uma argamassa, sendo esse mesmo  fenômeno usado na construção dos ninhos. O casal pode trabalhar em conjunto em vários  ninhos ao longo dos meses ou em um único ninho, levando cerca de 18 dias para cada um  ser construído. 

Seu ninho tem formato parecido com um forno de padaria e se assemelha à uma  concha internamente, como ilustrado seguir: 

Uma outra característica interessante é a posição da “portinha” do ninho. Como  você talvez já tenha ouvido, geralmente os joões-de-barro constroem sua “portinha” virada para o lado oposto do vento ou chuva mais predominante na região. Este fato foi testado por um pesquisador argentino em 1956/57 que analisou a posição de 315 ninhos  e viu que 79% (249 ninhos) realmente tinham a posição oposta aos ventos e chuvas que  mais aconteciam nos campos argentinos da região; incrível, não? 

Geralmente são postos de 3-4 ovos à partir de setembro e, após o período de  cuidado dos filhotes, os ninhos são abandonados. Este abandono gera oportunidade para outros animais ocuparem esses ninhos, o que não é incomum. Já existem vários avistamentos de pardais, andorinhas e canários que fazem seu próprio acolchoamento e  usam estes ninhos como abrigo para sua ninhada. 

Por trabalharem arduamente durante o ano, vemos muitas construções ao redor da  cidade e em lugares descampados, muitas delas desocupadas (como falamos anteriormente), sendo este um problema, pois quando nidificam em redes elétricas oferecem inúmeros problemas, como: descargas elétricas, atrapalham o automatismo da  iluminação dos postes (quando construídos sob as lâmpadas de iluminação), curtos circuitos e outros. 

Segundo um censo feito pela companhia de energia elétrica Rio Grande do Sul, feito em dezembro de 1987, foram avistados cerca de 580 ninhos em estruturas da rede elétrica, havendo cerca de 265 ninhos com riscos de causar descargas elétricas. Em um estudo feito em 2002 em Santa Catarina, nos municípios de Rio do Oeste, Pouso Redondo,  Laurentino e Agronômica, foram encontrados 1368 postes contendo ninhos dos 2234  postes vistoriados, dando um total de 1546 ninhos. Em postes trifásicos de alta tensão, os  maiores riscos são quando os ninhos são construídos encostados nos isoladores de  porcelana, pois acabam por acabam diminuindo o isolamento do sistema, acabando por  provocar curtos-circuitos e principalmente dias de chuva. No caso dos postes monofásicos de alta tensão, os ninhos localizados no topo dos postes oferecem maior risco de  acidentes, pois estão próximos do isolador. Em época fora do período de reprodução é necessário também que se removam os ninhos dos postes, pois mesmo que não sejam  novamente utilizados pelos pássaros, continuam a oferecer riscos. 

Podemos ver que a expansão dos joões-de-barro para as regiões urbanas oferece  um certo risco para as redes elétricas, mas nem por isso devemos evitar que esses animais  habitem a cidade. As empresas podem aplicar esforços alternativos para evitar que os  joões-de-barro nidifiquem no topo dos postes de energia elétrica, como: realizar cortes  transversais no topo de postes de madeira, instalação de cone protetor nos postes de  concreto, modificação ou distanciamento da peça de sustentação do isolador. É uma ave  adaptada ao ambiente urbanizado, e por mais que traga certos impactos com a sua  nidificação, é possível adaptar nossas construções para resolver esses problemas. 

Referências:  

SICK, Helmut. Ornitologia brasileira. 1ª Edição. Rio de janeiro: Nova Fronteira S.A., 1997. 912p. 

EFE, Mário Amorim; FILIPPINI, Alexandre. Nidificação do joão-de-barro, Furnarius rufus (Passeriformes, Furnariidae) em estruturas de distribuição de energia elétrica em Santa Catarina. Ornithologia, Porto Alegre, v. 1, n.2,

p.121 – 124, Junho 2006. 

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