Ahh, como é bom estar apaixonado! O amor é algo extremamente difundido na nossa sociedade e faz parte do nosso dia-a-dia, isso de diversas formas: desde livros românticos, comerciais apelativos, até mesmo quando observamos as pessoas à nossa volta. Vai dizer que não é extremamente nítido quando você encontra um casal apaixonado?!
O que talvez você não saiba, é que a paixão e o fato de estar num relacionamento romântico pode mexer, e muito, com o nosso cérebro. Sim, tenho certeza que você já notou que quando estamos nessa situação acabamos dando mais voz ao sentimento, deixando um pouco de lado a razão, agindo mais impulsivamente… a paixão bagunça a nossa cabeça. Mas você sabia que a paixão reduz o seu cérebro? Pois é verdade!
Um estudo realizado no Instituto Nacional de Ciências Fisiológicas do Japão recrutou 113 voluntários, que foram divididos em dois grupos: os que estavam em um relacionamento – 56 pessoas saudáveis, com idade entre 21 e 22 anos, em um relacionamento a pelo menos um mês – e os solteiros – 57 voluntários, de 21 anos. O estudo compreendeu uma série de análises e exames de imagem do cérebro de cada participante, juntamente com um questionário sobre “felicidade subjetiva”, que busca fornecer uma medida relativamente estável de se um indivíduo é uma pessoa feliz ou infeliz.
O que os pesquisadores viram foi que as pessoas que estavam em um relacionamento tiveram uma pontuação de felicidade subjetiva maior do que o “grupo solteiro”, o que sugere que estar em um relacionamento romântico pode aumentar a felicidade. Como discute o estudo, a felicidade experimentada em um relacionamento claramente depende de diversas características, dentre elas como se dá a relação íntima.
A experiência revelou que o amor romântico em estágio inicial possui uma felicidade subjetiva ainda maior e é extremamente associado com uma redução da densidade de matéria cinzenta, em uma área do cérebro chamada de ‘corpo estriado dorsal”. Associada com os sentimentos de recompensa, é o sistema responsável por nos dar felicidade com acontecimentos que achamos positivos – como comer, fazer sexo, receber um elogio, ver quem amamos, ganhar dinheiro, usar drogas, entre outros.
FIGURA 1. Diferenças na densidade da matéria cinzenta. In-Relationship, que corresponde aos que estão em um relacionamento e No-Relationship, aqueles que não estão em um relacionamento. |
A massa cinzenta é uma estrutura do cérebro responsável por coordenar atividades musculares e reflexos, com regiões envolvidas no controle muscular e percepção sensorial – como visão e audição, memória, emoções e fala, que passa por muitas mudanças durante toda a vida do indivíduo, sendo moldada conforme suas experiências individuais. É isso que explica o fato da diminuição da massa cinzenta em pessoas apaixonadas.
FIGURA 2. Localização do cluster relacionado a estar em um amor romântico. A área vermelha indica diferenças na densidade de matéria cinzenta entre os grupos (sem relação > em relação). |
Acompanhe o raciocínio: estando apaixonados, o simples sorriso da pessoa amada nos faz “derreter”, não faz? Nesse momento da vida estamos sempre rodeados por estímulos de recompensa, o que estimula constantemente a área do corpo estriado dorsal. Sendo assim, de forma muito simplista, o sistema de recompensa acaba sendo muito sobrecarregado nas fases iniciais da paixão e para moldar-se a isso, a massa cinzenta que, como falado anteriormente, se ajusta durante a vida do indivíduo, acaba reduzindo seu tamanho para se adaptar a esse estado de constante felicidade, o cérebro diminui essa região para tentar “deixar as coisas mais equilibradas”.
Apesar dos resultados interessantes, o estudo aponta que mais pesquisas deverão ser realizadas para investigar os mecanismos detalhados dessa diminuição, além da perspectiva de poder analisar outros fatores, como os términos, a qualidade do relacionamento ou estar apaixonado sem estar em uma relação e ainda a perspectiva de se analisar a causalidade de tudo isso, se uma redução da matéria cinzenta influencia na possibilidade de ter relações com outras pessoas.
Esse estudo não foi o único que associou a diminuição da massa cinzenta em decorrência do sobrecarregamento do sistema de recompensa. A Sociedade Britânica de Psicologia observou o mesmo efeito, mas com a grande diferença de que nesse experimento, a relação da recompensa foi feita com viciados em cocaína.
Então sim! Estar em um estágio inicial de relacionamento romântico aumenta a felicidade subjetiva e mostra uma reduzida densidade de matéria cinzenta. Aqui está a resposta para as famosas músicas românticas que associam o amor à confusão mental, vai ver não é por isso, ein? Já pensou no quanto aquele crush influencia não só nas suas atitudes, balança o seu coração, mas também é capaz de diminuir seu cérebro?!