Frio, resfriado, barba, cabelo e unha: alguns mitos biológicos.


O frio, diretamente, causa resfriados e/ou gripes? Cabelo e unhas continuam a crescer depois que as pessoas morrem? Aparar a barba faz ela crescer? Caro leitor, sabemos que você já se perguntou se tais histórias eram verdadeiras, sendo assim, vamos analisá-las biologicamente.
Comecemos pela história do frio. Tecnicamente, o frio em si não faz alguém ficar doente, mas sim, facilita que vírus, que já se encontravam presentes no organismo, se proliferem. Dependendo do grupo específico desses vírus, pode-se desenvolver o tão querido resfriado ou a tão amada gripe.
No inverno, tais enfermidades se tornam mais comuns devido a alguns fatores, tais como: as pessoas ficarem mais tempo em locais fechados e com maiores quantidades de gente; as fossas nasais ressecarem, dificultando o aporte de muco protetor às vias respiratórias; as respostas às infecções pelo sistema imune se tornarem mais dificultadas, devido à maior quantidade de energia que o organismo despende para se aquecer, principalmente se alguém não estiver usando roupas que o protejam (assim como em choques térmicos ocasionados pelo vento, chuva, etc.); finalmente, o frio ocasiona vasoconstrição de vasos periféricos que acabam por não conseguir conduzir células de defesa para as áreas de infecção. Tudo isso pode causar a proliferação de tais vírus (moral da história: escute sua mãe, ponha um casaco!). Além desses fatores, há a hipótese de que o ar seco e frio do inverno facilite a sobrevivência de vírus em gotículas ejetadas por alguém infectado, já que a membrana lipídica que envolve tais microrganismos se torna mais ativa e resiliente, fazendo-os se propagarem.
Mudando um pouco de assunto (só um pouco), as unhas crescem cerca de 0,1mm e fios de cabelo cerca de 0,33mm por dia num indivíduo vivo, sendo que as velocidades vão decrescendo com a idade. Mesmo que o cabelo e as unhas possam parecer maiores, ao ser observado um indivíduo em óbito a um determinado tempo, não quer dizer que tais estruturas cresceram, mas sim, de que a pele ao redor das implantações encolheu devido à desidratação do corpo humano, criando uma ilusão de óptica (é só reparar que zumbis geralmente não possuem unhas e cabelos muito compridos). Na camada de tecido abaixo da raiz das unhas, há a chamada matriz germinativa, onde há a produção de novas células.
As células jovens vão empurrando as mais velhas e mortas para frente, fazendo a unha crescer. A unha é formada então por células mortas e agregado de proteínas como a queratina. Algo muito similar ocorre com o crescimento de fios de cabelo. Assim, o óbito de um indivíduo põe fim ao aporte de glicose (fonte de energia primária) e de oxigênio aos tecidos, devido à interrupção do batimento cardíaco, não havendo possibilidade de existir crescimento de unhas e cabelos depois da morte.

Já o ato de ficar aparando a barba faz parecer que ela engrossa no curto período posterior ao corte, pois o formato dos pelos é ser afilado (pontudo) na ponta visível e circular no meio e na sua raiz. Então, quando uma lâmina o corta, parece que a base do pelo, ainda fixada, crescerá mais grossa e escura que antes. Infelizmente, é tudo uma outra questão de ilusão de óptica, já que a remoção de pelos não muda nada em relação ao seu processo de crescimento. Além disso, é mito que os jovens, ao apararem seus bigodes, farão os pelos ficarem maiores. Na realidade, o barbear pode coincidir com flutuações hormonais naturais do crescimento e desenvolvimento do corpo humano, e, obviamente, ainda existem questões genéticas, nutricionais e ambientais envolvidas.
Segundo uma pesquisa norte-americana em dermatologia, se você esfregar uma área de sua pele significativamente, o que não acontece com aparagens de barba rotineiras, pode-se criar um calo na pele, e isso pode estimular um engrossamento e/ou crescimento de pelos (esse fato pode ter dado origem a outra lenda urbana). Isso por que a pele engrossa, as terminações nervosas vão se tornando mais sensíveis e os pelos podem acabar engrossando, mas tal acontecimento não é muito frequente.
Provavelmente, todas essas histórias surgiram em tempos passados e se perpetuaram no senso comum, com as pessoas conectando e explicando facilmente, mas não de forma correta, fenômenos observáveis à olho nu com ‘’causas’’ conhecidas. No entanto, não vamos sair julgando ninguém por acreditarem em tais histórias, e sim, com os subsídios biológicos aqui expostos, pode-se suscitar mais interessantes discussões sobre tais mitos.
Fontes:
Porque pegamos mais gripes geralmente no inverno? Os vírus são mais nocivos em um clima frio? Scientific American, Health. Disponível em: <https://www.scientificamerican.com/article/why-do-we-get-the-flu-mos/>. Acesso em 12 de março de 2017.
HAMMOND, C. O cabelo e as unhas crescem depois da morte? BBC. Publicado em 28 de maio de 2013. Disponível em: <http://www.bbc.com/future/story/20130526-do-your-nails-grow-after-death> Acesso em 10 de março de 2017.
University of Arkansas for Medical Sciences. O cabelo e as unhas de uma pessoa continuam a crescer depois de sua morte? Disponível em: <https://uamshealth.com/healthlibrary2/medicalmyths/dohairandnailsgrowafterdeath/>. Acesso em 12 de março de 2017.

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