As incríveis adaptações dos animais aos ambientes desérticos

Texto por: Aline Conceição de Oliveira da Silva e Maira Maria Vieira

A natureza é o sistema mais complexo da humanidade, mas, mesmo assim, consegue funcionar perfeitamente, apesar da diversidade de animais, plantas e climas. No entanto, existem alguns lugares tão “diferentes” que nos perguntamos: como esse sistema funciona? Como esses animais sobrevivem? O que eles comem? O que você imagina quando pensa nessas regiões extremas? 

Quando pensamos em lugares muito quentes ou muito frios, logo pensamos em ambientes inabitáveis. Uma das regiões que pensamos é o deserto, especificamente os continentais e subtropicais, localizados próximos à linha do Equador. Muitos imaginam como um lugar com temperaturas altíssimas e apenas areia. Mas, ao contrário do que muitos pensam, é um ambiente com uma grande biodiversidade e peculiaridades. Mesmo sendo considerado hostil,  é uma área que abriga diferentes tipos de vida

Fonte: Segredos do Mundo, 2020.

A biodiversidade desse ambiente é muito interessante, vai desde pequenos insetos a grandes mamíferos, pois as condições quentes e secas mais extremas se encontram nos desertos tropicais, que são um habitat de certa forma “desfavorável” para a vida animal. No entanto, eles  possuem estratégias adaptativas para driblar a escassez de água e enfrentar altíssimas variações de temperatura, de modo que conseguiram se manter por milhares e milhares de anos. 

Os animais menores que vivem no deserto possuem uma estratégia comportamental mais facilitada em relação aos animais maiores, pois o hábito de vida da grande maioria é viver em tocas e buracos, onde a temperatura é menor e, além disso, também permite que se escondam de predadores. Já os animais maiores não conseguem utilizar essa técnica, nem conseguem achar sombra facilmente. Dessa forma, precisaram desenvolver, ao longo do processo evolutivo, outras adaptações para viver nesses ambientes. Quando pensamos nesses grandes animais que vivem nos desertos, logo vem à cabeça o camelo. São animais que conseguem sobreviver por grandes períodos de tempo sem ingerir água. Por muito tempo, acreditou-se que os camelos armazenavam água nas suas corcovas, o que se trata de um mito. Ao contrário do que muitas pessoas acreditam, as corcovas dos camelos são reservatórios de gordura (tecido adiposo, isto é, um tecido que acumula gordura). Dessa forma, eles são isolantes térmicos, que bloqueiam a entrada e saída de calor. 

Fonte: internet + edição das autoras (corcova).

Agora que já entendemos sobre a corcova, como que os camelos e outros animais de grande porte conseguem água no deserto? Todas as espécies de grandes herbívoros do deserto obtêm grande parte de sua água com água pré-formada, ou seja, essa água é obtida através dos alimentos.

Uma curiosidade interessante é que esses animais começam a se alimentar dessas plantas nas primeiras horas da manhã, porque nesse momento o clima está frio e as plantas estão cheias de orvalho, o que seria diferente caso eles fossem consumir mais tarde, porque a temperatura estaria muito quente e não obteriam muita água proveniente da vegetação. Mas isso não quer dizer que eles não precisam beber água diretamente de fontes paradas (poças, rios, lagos), pois ocasionalmente eles irão precisar, porém conseguem permanecer sem por longos períodos de tempo.

Além desses animais  obterem  a água necessária para sobreviver a partir de água pré-formada, uma das estratégias é  perder o mínimo de água que conseguirem para que não morram de desidratação. Então, eles usam a água metabólica, que vem de quebra de moléculas através do metabolismo, que serve para a manutenção do funcionamento do corpo. Quando se priva um camelo de água potável, sua temperatura retal pode exibir uma flutuação diurna de até 5ºC ou 6ºC. Quando tem acesso diário à água, as flutuações são menores.

Durante o dia, a incidência do sol é gigante por conta da ausência de vegetação alta e da areia que reflete os raios solares. Ou seja, a temperatura aumenta muito, e isso é um fator determinante para perder água através, por exemplo, do suor. Isso acontece porque a temperatura externa (ambiente) está muito maior que a interna (dentro do corpo). Esses animais conseguem, através mecanismos do corpo, deixar aumentar sua temperatura corporal e aturar esse aumento, assim, não sofrem com o calor pela grande diferença de temperatura e não perdem tanta água por evaporação. Entretanto, durante a noite, a temperatura cai drasticamente. Os animais que vivem nesse local possuem uma capacidade de estocar o calor ao longo do dia, por possuírem uma pelagem extremamente densa e camada de gordura que armazena calor e também os protege do sol. Assim, tornam-se tolerantes à variação de temperatura e não sofrem com isso.

Fonte: Ciências Resumos, 2018.

Outros animais, além do camelo, que também possuem adaptações semelhantes para sobreviver nos desertos, são os órixes, gazelas-de-grant, gazelas-de-areia.

O ser humano no deserto

Embora pareça impossível para um ser humano viver no deserto, alguns povos habitam esses lugares há milhares de anos. Na região do Saara, vivem atualmente quase três milhões de pessoas — a maioria nômades. No deserto, vivem basicamente beduínos e tuaregues. Os beduínos são nômades que vieram no local há quase 1500 anos. Os tuaregues são semi-nômades que se definem como homens livres. Eles vivem da agricultura e, no passado, eram também comerciantes que controlavam as caravanas do deserto. Esses povos utilizam mecanismos para se proteger do sol intenso, como as roupas claras que cobrem a cabeça. A grande maioria utiliza os camelos como meio de locomoção, para buscar alimento e água, mas durante o inverno procuram ficar mais reclusos.

REFERÊNCIAS

HARDY, Richard N. Temperatura e Vida Animal. 25. ed., 1981.
HILL, Richard W.; WYSE, Gordon A.; ANDERSON, Margaret. Fisiologia Animal. 2. ed., 2011.

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