Texto por: Christian Gabriel Bento
Pesquisadores do Instituto de Biologia da Unicamp publicaram uma observação de uma nova espécie de besouro encontrada na Amazônia, que imita a coloração de uma rã venenosa. A observação pode ser uma nova relação de mimetismo entre inseto e vertebrado! Mas, afinal, o que é mimetismo?
Com cerca de 1 milhão de espécies descritas, os insetos representam o grupo mais diverso de animais conhecido, estão presentes em todos os continentes. Por serem tão numerosos e dispersos, os insetos apresentam diferentes adaptações evolutivas, e é aí que entra o mimetismo.
Basicamente, o mimetismo é uma estratégia evolutiva que consiste em uma espécie imitar traços morfológicos de outras espécies, ganhando uma vantagem ao enganar seus predadores ou presas. Existem vários tipos de mimetismo, um dos mais comuns é o mimetismo Batesiano, onde uma espécie inofensiva imita características de outra espécie que representa algum perigo para seu predador.
Em alguns casos o mímico replica também a coloração chamativa do modelo. Como acontece com algumas espécies de moscas da família Syrphidae.
Figura 2. Um pôster de moscas-das-flores (Syrphidae) Autor: Alvesgaspar
Nessa situação, esse grupo de moscas replica o aposematismo (coloração de aviso) das vespas e abelhas. Geralmente a coloração conspícua (chamativa) no aposematismo serve para uma presa indicar para o seu predador que é perigosa, venenosa ou impalatável.
Outra estratégia de mimetismo é o Mulleriano, onde mais de uma espécie com mecanismos de defesa (como veneno) compartilha aparência para reforçar para o predador que animais com tal coloração podem ser perigosos. Um exemplo é a coloração amarela e preta compartilhada entre abelhas e vespas.
O mimetismo é um fenômeno complexo que envolve vários fatores, como a relação predador-presa e a evolução dos padrões de coloração, forma e comportamento nos mímicos. Por exemplo, aves, que caçam principalmente pela visão, podem ser uma grande força seletiva para o surgimento de colorações de aviso. A forma como a ave caça afeta o padrão de cores das suas presas ao longo do tempo.
Demonstrando isso, o Besouro encontrado na Amazônia equatoriana possivelmente imita a coloração da rã, precisamos descrever a espécie e fazer mais estudos para avaliar se realmente o besouro ganha alguma vantagem por ter o mesmo padrão de cores que a rã. Contudo, caso não se confirme a relação mimética, a coloração do besouro pode ter outros motivos para ter sido selecionada durante a evolução, como defesa de predadores, sendo uma coloração aposemática ou pode ter evoluído como uma camuflagem para o besouro se confundir com o ambiente. Em breve teremos mais pesquisas para entender qual fenômeno faz essa espécie de besouro ter a coloração similar à da rã.
Figura 4. Padrão de cores semelhantes de um besouro Cratosomus sp.(imagem à esquerda) e sapo-ponta-flecha Ameerega trivittata (imagem à direita), sugere que o besouro pode imitar a coloração deste sapo altamente tóxico. — Foto retirada do artigo: A possible case of insect-frog mimicry.
Referências Bibligráficas:
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PORTAL DO BUTANTAN. (ed.). Mimetismo, camuflagem, aposematismo e cripticidade: os mecanismos dos seres vivos para se esconder ou enganar os predadores. 2022. Disponível em: https://butantan.gov.br/butantan-educa/mimetismo-camuflagem-aposematismo-e-cripticidade-os-mecanismos-dos-seres-vivos-para-se-esconder-ou-enganar-os-predadores. Acesso em: 15 abr. 2024.
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