Microbioma humano: (micro) metrópoles em corpos

Texto por: Isabeli Bonin Távora

Imagine uma cidade movimentada em um dia de semana, as calçadas e ruas cheias de pessoas indo aos seus compromissos. Agora, pense nisso em uma escala microscópica e terá ideia de como sua microbiota se parece, – contendo milhões de bactérias, fungos, arqueias e vírus coexistindo em seu corpo, trabalhando incessantemente para a obtenção de energia.

Pensando na analogia em que somos cidades onde os microrganismos habitam, podemos dizer que nossos primeiros habitantes chegaram logo ao nascermos, no momento do parto. Um estudo realizado por um grupo de pesquisa brasileiro relatou que esses habitantes mudam de acordo com o tipo do parto feito. Por exemplo, crianças nascidas de cesárea apresentam uma microbiota mais parecida com a da pele, enquanto os nascidos de parto normal apresentam espécies presentes na vagina da mãe. 

Nossas microbiotas se desenvolvem durante os 3 primeiros anos de vida, de modo que esse período é crucial para a obtenção de uma comunidade diversa e eficiente. No decorrer desta delicada janela temporal, vale destacar a amamentação. Já é conhecido que a partir do aleitamento o bebê adquire os anticorpos da mãe, o que por si só já é essencial para o desenvolvimento do sistema imune da criança; no entanto, mais do que isso, durante esse processo são passados microrganismos que migram para o intestino do bebê. 

Sabe-se  que os microrganismos estimulam o sistema imunológico,  decompondo compostos alimentares potencialmente tóxicos e sintetizando certas vitaminas e aminoácidos, como as vitaminas B12 e K2. Entretanto, ainda não sabemos com totalidade o papel dos diferentes microbiomas em nosso metabolismo, e como uma disbiose, ou seja, um desequilíbrio na composição e diversidade da microbiota que é desfavorável para o corpo, pode estar relacionado a algumas doenças, como obesidade e diabetes. 

Ademais, é importante ressaltar que o corpo humano é formado por diferentes microbiotas, sendo consideravelmente diferentes umas das outras. Fazendo um paralelo com a ecologia, essa diferenciação se dá pelas distintas disponibilidades de recursos, selecionando os microorganismos mais adaptados para a obtenção deles naquelas condições. Assim, pode-se dizer que cada microrganismo ocupa um nicho ecológico em nosso corpo, desempenhando um papel específico e distinto dos outros. 

Existem diversos estudos sobre metagenômica dos diferentes microbiomas. Entretanto, classificar um tipo de microbiota como padrão ou ideal não é uma tarefa tão simples, uma vez que nossas microbiotas diferem notavelmente uma das outras. Isso ocorre pois elas são alteradas de acordo com muitos fatores ambientais, que vão desde a forma que nascemos – como explicado anteriormente -, até nossa dieta, compreendendo ainda o local em que vivemos, entre outros fatores, que mudam ao longo de nossa vida. 

Por fim, um ponto importante para ser observado é que não somos os únicos organismos que possuem uma microbiota. Animais ruminantes, por exemplo, possuem uma microbiota que os auxilia na digestão da celulose, enquanto certos grupos de insetos (especialmente os sociais, como formigas, abelhas e cupins) também apresentam microbiotas. Assim, observamos que essa simbiose não é específica para um grupo de seres vivos, e provavelmente é muito mais frequente do que imaginamos. 

Em resumo, coexistimos com milhares de formas de vida o tempo todo, dentro e fora de nós. Então, da próxima vez que você se sentir sozinho, se lembre, você nunca está.  

REFERÊNCIAS

DINIZ, Gabriela; COELHO, Pinto; FERNANDES, Lilian; et al. Como citar este artigo A microbiota adquirida de acordo com a via de nascimento: uma revisão integrativa Artigo de Revisão. 2021. Disponível em: <https://www.scielo.br/j/rlae/a/r959F4dwG98qnXMgf3Y8wBb/?lang=pt&format=pdf>.

NA. Problemas na microbiota são gerados do parto à alimentação. Jornal da USP. Disponível em: <https://jornal.usp.br/atualidades/problemas-na-microbiota-sao-gerados-do-parto-a-alimentacao/ >. Acesso em: 28 fev. 2024.

NA. Leite materno corrige alterações na microbiota intestinal de bebês. Jornal da USP. Disponível em: <https://jornal.usp.br/ciencias/leite-materno-corrige-alteracoes-na-microbiota-intestinal-de-bebes/ >. Acesso em: 28 fev. 2024.

‌Fig. 1 Diversity in the human microbiome. The human microbiome is… ResearchGate. Disponível em: <https://www.researchgate.net/figure/Diversity-in-the-human-microbiome-The-human-microbiome-is-dominated-by-four-phyla_fig1_301741839 >. Acesso em: 28 fev. 2024.

The human microbiome. FutureLearn. Disponível em: <https://www.futurelearn.com/info/courses/infection-control-antimicrobial-resistance/0/steps/32003 >. Acesso em: 28 fev. 2024.

CUSTÓDIO, Maria; RUPP, Alberto ; ÁLVARO OSCAR CAMPANA. Vitamina K: metabolismo e nutrição. Revista De Nutricao-brazilian Journal of Nutrition, v. 14, n. 3, p. 207–218, 2001. Disponível em: <https://www.scielo.br/j/rn/a/xVfssYSZdh435bSRPBSfQCh/ >. Acesso em: 28 fev. 2024.

PRANDI, Bruno Aschidamini. Produção de vitamina B12 por co-cultivo entre propionibacterium freudenreichii e lactobacillus plantarum utilizando residuo agroindustrial de soja como meio de cultura. Ufrgs.br, 2018. Disponível em: < http://hdl.handle.net/10183/233813  .>. Acesso em: 28 fev. 2024.
‌The Microbiome. The Nutrition Source. Disponível em: <https://www.hsph.harvard.edu/nutritionsource/microbiome/ >. Acesso em: 28 fev. 2024.

Deixe um comentário