Domesticação pelos incas

Texto por: Mateus Alencar

Ilustrado por: Débora Malu

Lhamas e alpacas tinham diversos usos para a civilização inca. Elas carregavam coisas (inclusive os próprios incas), a lã era utilizada para confeccionar roupas e outros adornos e a carne era uma refeição comum e apreciada. Porém, as lhamas/alpacas com pelagem excepcionalmente lisa e bonita, de linhagem “pura” eram selecionadas para serem sacrificadas no templo (com uma rápida marretada na cabeça). De acordo com as crenças dos Incas, isso apaziguava a fúria dos deuses, bem como trazia chuvas e ajudava na colheita.

Bem como lhamas e alpacas, os porquinhos-da-índia também eram sacrificados pelos mesmos motivos. Porém, já foram encontrados subfósseis desses animais possuindo diversos adornos, incluindo brinquinhos feitos propriamente para eles (brincos eram muito comuns e utilizados por diversos deuses, então talvez isso servisse para aproximá-los dessas divindades).

Porquinhos-da-índia eram animais selvagens que se aproximaram aos poucos dos humanos. Os incas, por sua  vez, passaram a oferecer comida e construir tocas dentro de casa, onde era mais quente. Gradualmente,  esses animais foram se integrando nas residências da população. Grãos faziam parte constante da dieta dos incas,  principalmente da população geral. Dentre eles, o milho era o mais consumido, pois era o mais abundante e  fácil de conseguir/repor. Carnes eram uma iguaria consumida principalmente pelas famílias mais nobres.  Porém, em datas especiais, mesmo nas famílias fora da nobreza havia o costume de comer carne de  porquinho-da-índia para celebrar o que quer que fosse a ocasião.

Lhamas não eram animais domesticados no começo. Grupos selvagens vagavam livres por aí e os incas as caçavam. Normal. Porém, acredita-se que em algum ponto, os incas aprenderam a domesticar as lhamas, ou seja, elas foram lentamente introduzidas ao convívio humano ao ponto que se tornou normal, facilitando muito a vida dos incas

Os incas não viam porquinhos-da-índia como bichinhos de estimação. Como dito antes, eram ótimos sacrifícios e excelentes pratos em dias especiais, mas não pets. Essa ideia surgiu quando os europeus chegaram na América, viram esses animaizinhos fofos e os levaram de volta para a Europa (vale lembrar que, apesar do nome, porquinhos-da-índia não são nativos da Índia, mas sim da América do Sul, então os europeus nunca haviam os visto antes

Referências Bibliográficas

BOLTON, Ralph. Guinea Pigs, Protein, and Ritual. Ethnology, v18, p. 229-252, 1979. 

DVORSKY, George. 400-Year-Old Sacrificed Guinea Pigs Wearing Colorful Earrings and Necklaces  Discovered in Peru. Gizmodo, 2019. Disponível em: https://gizmodo.com/400-year-old-sacrificed guinea-pigs-wearing-colorful-ea-1834006876 

MURRA, John V. Herds and herders in the Inca state. In: Man, culture, and animals: The role of  animals in human ecological adjustments. American Association for the Advancement of  Science, v, p. 185-215, 1965. 

YACOBACCIO, Hugo D. Andean camelid herding in the South Andes: ethnoarchaeological models for archaeozoological research. Anthropozoologica, v42, p. 143-154, 2007.

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