Foto de um copépode carregando uma bolsa de ovos na parte posterior do corpo, denominada “Furca”. Fonte: Gerd Guenther. |
Por: Lucas Garbo Miguel
A maioria das pessoas deve pensar que o animal mais rápido do mundo é o guepardo ou o falcão-peregrino. De fato, quando analisamos valores absolutos, isso é verdade. O guepardo consegue atingir velocidades de 100 km/h com uma aceleração incrível de 10m/s, enquanto o falcão chega à imensos 320 km/h. Mas quando pensamos proporcionalmente ao tamanho, nenhum outro animal é mais rápido que o poderoso copépode.
O copépode é um animal pequeno pertencente à classe dos crustáceos (Filo Arthropoda, o mesmo dos insetos, aranhas e escorpiões). Esses carinhas consegue chegar apenas até 3mm de comprimento (por isso são considerados seres microscópicos em sua maioria). Junto com outros grupos de animais, os copépodes compõem o zooplâncton (conjunto de animais microscópicos que vivem suspensos na coluna d’água). Esses organismos são de extrema importância para o ecossistema, pois transferem a energia provinda dos produtores (algas e algumas bactérias) para os consumidores secundários (peixes e outros tipos de invertebrados) nas teias alimentares dos ambientes aquáticos.
Grande variedade de animais e formas de zooplâncton. O copépode faz parte desse grupo de organismos. Fonte: Autor desconhecido. |
Mas então vamos aos números! O copépode consegue atingir velocidades de até 0.5 m/s (500 vezes o seu tamanho por segundo). Não parece muito, mas comparando com o tamanho do corpo desse animal, é algo imensamente veloz. Se humanos fossem capazes de fazer algo similar, seríamos capazes de pular 800 metros de distância em um único segundo (2880km/h)! O guepardo por sua vez, correria cerca de 600 metros por segundo (2160km/h). Se quiser um pouco mais detalhes sobre a força propulsora que o copépode realiza para esses “pulos”, acesse aqui.
Mas o que faz dos copépodes seres tão rápidos? Esses organismos possuem dois sistemas primários de locomoção: braços criadores de corrente e pernas especializadas na natação. Basicamente, enquanto o copépode utiliza seus primeiros apêndices (“braços”) para criar uma corrente na água, ele usa suas 4-5 patas para nadar. É como se nós seres humanos possuíssem alguma estrutura que pudesse criar uma corrente de ar ao nosso favor, ao passo que corremos usando nossas pernas. Caso queira ler mais sobre, você pode acessar esta matéria, ou diretamente o artigo publicado pelo cientista Thomas Kiørboe.
Mas não para por aí. Além de ser o animal mais rápido do planeta, muitos cientistas consideram os copépodes como os animais mais abundantes. Competindo com o krill marinho, formigas e nematódeos (um tipo de verme cilíndrico), os copépodes também não decepcionam quando o quesito é número de indivíduos. Como há muita água (tanto doce, quanto marinha) no nosso planeta, os copépodes acabam tendo uma vasta extensão de habitats para viverem e procriarem. Aliados à um rápido sistema de reprodução, esses animais conseguem facilmente chegar à 100.000 indivíduos em apenas um metro cúbico de água. Agora imagine 100, 1000, 100.000 metros cúbicos de água! Sem dúvida é copépode para todo o lado.
Porém, apesar da sua grande abundância, o nível de zooplâncton está diminuindo (e por consequência, de copépodes). De acordo com entrevista dada ao site jornalístico “CBC”, o pesquisador do Departamento de Pesca e Oceano de St. John, Canadá, Pierre Pepin relata que 50% da biomassa de zooplâncton de sua região de estudo já foi dizimada. Esse tipo diminuição pode causar distúrbios nas teias alimentares marinhas e de água doce. Esse declínio na população de copepodes pode ter sido causado pelas mudanças climáticas atreladas ao aquecimento global, pois essa problemática causa mudanças na temperatura da água e consequentemente no comportamento do fitoplâncton (principal fonte de alimento do zooplâncton).
Problemas como esse não impactam apenas os ecossistemas em que esses animais vivem. Sem o zooplâncton como sua principal fonte de alimento, os peixes no mundo inteiro correm risco de desaparecer caso os números destes animais continuem caindo. Isso pode afetar diretamente a nossa sociedade, causando um enorme declínio nas populações de peixes, o que geraria um impacto indireto ainda maior nas outras populações de animais marinhos. Mesmo assim se você não se importar com a vida oceânica, pense em termos práticos para o que isso poderia significar para nossa sociedades. Com problemas como esse, a pesca, tanto para peixes quanto para outros frutos do mar, como lulas, polvos e camarões poderia nunca mais ocorrer devido à extinção das espécies. Por essas e muitas outras razões, os esforços de conservacionistas são muito importantes para manter saudáveis os níveis populacionais dos seres vivos permitindo então a manutenção das comunidades dos organismos, e é claro, dos maravilhosos copépodes.