Você tem uma tarefa a cumprir em um determinado prazo, mas o que você faz são muitas outras coisas exceto essa tarefa. Esse comportamento costuma ser chamado de procrastinação, que também pode ser definido como o atraso voluntário de uma atividade necessária ou importante, apesar de se esperar que as possíveis consequências negativas superem as consequências positivas do atraso.
Para algumas pessoas, a procrastinação pode se tornar problemática, resultando em ansiedade, queixas físicas e diminuição do bem-estar. A literatura científica reporta que os estudantes que procrastinam regularmente tendem a receber notas mais baixas nos exames finais, e esses alunos têm menos sucesso em seu curso de graduação. No entanto, embora sejam difundidos os aspectos negativos desse comportamento, há casos em que a pressão criada pela procrastinação pode melhorar o desempenho. Ainda assim, poucos estudos investigam os benefícios desse hábito.
Estudos revelam que o ato de procrastinar é uma condição altamente comum, especialmente entre estudantes do ensino médio e universitários, e ocorre independentemente dos distintos valores culturais, normas e práticas nas diversas populações humanas. Além disso, existem poucos estudos em relação ao seu tratamento, sendo necessárias novas pesquisas e ensaios clínicos para fornecer tratamentos psicológicos eficazes.
O pesquisador Piers Steel explica em seu livro The Procrastination Equation¹ a base neurobiológica da procrastinação e, ainda que seja uma aproximação de como funcionaria, ele a descreve como uma equação complexa constituída pela interação entre o sistema límbico e o córtex pré-frontal. Elucidando essa questão, o sistema límbico é rápido e definitivo e ajuda nas rápidas tomadas de decisões; por outro lado o córtex pré-frontal é o lugar onde surgem o planejamento e os benefícios futuros, ou seja, leva em consideração as decisões feitas a longo prazo. Desse modo, a procrastinação ocorre quando o sistema límbico veta os planos de longo prazo do córtex pré-frontal a favor do imediatismo. Quando os eventos próximos recebem esse impulso avaliativo do sistema límbico, a vivacidade aumenta e a atenção é focada nos aspectos imediatos e consumíveis como, por exemplo, em que se pode cheirar, ver, ouvir, tocar e provar.
Assim, muitas vezes qualquer atividade é adiada até que esteja próxima ou concreta o suficiente para receber um aviso do sistema límbico de que o tempo realmente está se esgotando. A partir deste momento, em que ambas as estruturas do cérebro estão finalmente chegando a um acordo, que é a hora do desespero, você passa até o último minuto escrevendo aquele trabalho que poderia ter feito há mais de uma semana.
Para vencer a procrastinação, muitas ferramentas foram criadas e são de fato bastante úteis. Uma dessas ferramentas se chama “Pomodoro”, sendo uma técnica inventada por Francesco Cirillo na década de 80 e ainda hoje amplamente utilizada e muito eficaz. Essa técnica consiste basicamente em marcar o cronômetro para 25 minutos e desligar todas as interrupções e, então, focar na sua atividade. Quando acabar o tempo, é a hora do relaxamento mental, pois é importante dar uma pausa, permitir ao cérebro mudar o foco de uma forma agradável por um algum tempo, embora essa pausa deva ser breve, de 3 a 5 minutos no máximo. Após fazer quatro pomodoros, ou seja quatro ciclos de foco total, é importante dar uma pausa mais extensa de 15 a 30 minutos, e depois disso é possível retornar ao ciclo inicial e repetir o processo.
Como funciona a técnica pomodoro em cinco passos | Fonte: Ederson Melo
Portanto, ao que tudo indica, adiar ou prolongar uma situação para ser resolvida depois é uma conduta praticada pela grande maioria das pessoas sem qualquer discriminação cultural. Sabe-se que o processo evolutivo exerceu um papel determinante em estabelecer a interação de instinto e razão, a qual permitiu a existência da espécie humana como a temos atualmente, incluindo a procrastinação. Desse modo, todos estamos sujeitos às interações neurobiológicas que nos foi destinada, porém é possível utilizar ferramentas para ludibriar nosso cérebro e buscar alcançar nossas metas a longo prazo.
Referência:
¹ S. Piers. The Procrastination Equation. Estados Unidos da América. New York: Harper, c2011.
Muito bom.
https://www.nytimes.com/2019/03/25/smarter-living/why-you-procrastinate-it-has-nothing-to-do-with-self-control.html. Uma outra leitura interessante 🙂