Por: Pedro B. Marconi
Cientista jogando “Jenga” da vida real ao testar precipitadamente a técnica CRISPR-Cas9 em humanos. l Fonte: https://ideas.ted.com/the-promising-and-perilous-science-of-gene-editing/ |
Você se lembra do que já comentamos aqui no Sporum sobre a ferramenta de edição genética “CRISPR-Cas9”? Ela que promete revolucionar o tratamento de doenças e muitas outras coisas na breve vida dos humanos (Recomendo fortemente a leitura do link anterior caso você ainda não conheça sobre ela, ou então assista antes este lindo vídeo do Nerdologia sobre o assunto, para você não moscar nesse texto aqui).
Pois bem, também já deve ter ouvido falar que enquanto você aprende a regra de três na escola aqui, tem um asiático da mesma idade terminando seu doutorado no outro lado do mundo, né. Porém nem sempre essa pressa é a melhor coisa e tem sido uma preocupação na China. Segundo uma investigação do Wall Street Journal, a edição de genes com CRISPR tem sido feita em vários seres humanos por lá desde 2015, antes disso o processo apenas havia sido testado em animais e outras formas de vida mais simples. Para você ver, muito antes de eu escrever para você sobre o futuro incerto dessa técnica em humanos, eles estavam se tornando o primeiro país a testar em nossa espécie e em larga escala. Claro que os motivos são dignos para tentar tratar doenças graves como o câncer, só que fazendo isso eles estão tomando sérios riscos.
China e uma representação da sua superpopulação. l Autoria desconhecida |
Mas qual é o problema então em já usar em humanos? Assim a ciência progride mais rapidamente e quem sabe conseguiremos curar alguns tipos de câncer? Yeah, science bitch!
Não! Não é bem assim que as coisas devem funcionar. Há sérios motivos pelos quais isso não foi testado em humanos em outros países ainda e dois deles são os seguintes:
- Uma resposta negativa do nosso sistema imunológico: estudos de Stanford demonstraram que o sistema imune humano pode dificultar a segurança e eficácia da técnica CRISPR-Cas9 simplesmente porque a Cas9 é uma proteína que vem comumente de duas bactérias, a Staphylococcus aureus e a Streptococcus pyogenes, e talvez você não saiba, mas a humanidade já está bem acostumada com elas infectando nossos belos corpos primatas, então já estamos naturalmente prontos para nos defendermos delas.
- Cortes indesejáveis: como já sabemos, a técnica funciona com dois componentes, uma proteína que corta e um RNA que guia para o local que queremos cortar. Esse RNA tem em torno de 20 bases nitrogenadas e precisa se encaixar no local exato para cortar. O problema é que muitas partes do genoma possuem essa mesma sequência de bases, então a CRISPR pode facilmente cortar no lugar errado. Esse tipo de erro pode transformar o gene editado em um potencial causador de câncer. Felizmente tem um pessoal de uma tal de Microsoft Research que desenvolveu uma ferramenta de Inteligência Artificial que vai ajudar a melhorar a precisão da CRISPR.
Ninguém precisa desanimar ainda. A ciência no ramo da engenharia genética realmente evolui rápido e nesses últimos anos foi fantástico o número de melhorias que essa técnica recebeu, e novas medidas estão sendo desenvolvidas para superar esses desafios citados. Grupos de pesquisa de outros países estão correndo para conseguir as autorizações para começarem pesquisas e tratamentos em humanos e muitos estão projetando começar neste ano de 2018 mesmo, em sua maioria com o máximo de cautela e rigor que a ciência exige para que seja eficaz. E assim a humanidade se desenvolve, cada vez mais brincando de deus.
Nota: esse texto foi basicamente uma tradução de partes de notícias da coluna The Download, da revista MIT Technology Review, com alguns floreios meus. As notícias estão referenciadas abaixo. Portanto atribuo o crédito ao pessoal da revista, que aliás é uma excelente fonte de conhecimento para saber do que há de mais “quente” no meio científico.