No experimento, lagarta alimentando-se de Arabidopsis thaliana |
Quem é que nunca conversou com as plantas? Todo mundo tem pelo menos uma avó ou uma tia distante que deseja bom dia às suas begônias. Alguns podem dizer que conversar com as plantas é até terapêutico, enquanto muitos provavelmente acham que é loucura. A esses a ciência tem uma resposta: meus caros, as plantas estão ouvindo!
Foi o que comprovou um artigo publicado recentemente na revista científica Oecologia. Heidi Appel e Rex Cocroft, da Universidade de Missouri, nos EUA, estudaram a reação da planta Arabidopsis thaliana, uma parente da couve, quando esta é exposta ao som de lagartas comendo as suas folhas, e o resultado foi surpreendente.
O mundo está povoado com insetos, que são os principais herbívoros da natureza. Assim, as plantas devem constantemente conseguir se defender de serem comidas por eles e por outros herbívoros. A sua principal arma é a liberação de substâncias químicas que as tornam mais difíceis de digerir, ou até mesmo tóxicas.
Nesta pesquisa, os cientistas gravaram o som que lagartas produzem ao mastigarem a A. thaliana, e em seguida fizeram dois experimentos. No primeiro, colocaram as lagartas sobre as folhas de um grupo de A. thaliana, deixaram que se alimentassem um pouco, e depois mediram a quantidade de compostos químicos de defesa que a planta liberou nas folhas.
Em seguida, pegaram outro grupo de plantas, para as quais foi reproduzido o som das lagartas se alimentando antes de colocá-las sobre as folhas. Depois que as folhas estavam parcialmente comidas, foram retiradas para avaliar a sua composição química.
No segundo experimento, semelhante ao primeiro, além do som das lagartas, foi reproduzido às plantas o som do vento, uma importante fonte vibrações sonoras no ambiente, e o som de cigarrinhas cantando, cujas vibrações são muito semelhantes ao das lagartas mastigando, antes de submeter a planta à herbivoria.
Numa população de Arabidopsis, ouvir a vizinha sendo comida é uma vantagem |
O que se descobriu com tudo isso é que as plantas que haviam recebido o som das lagartas liberaram mais compostos químicos para se defenderem — principalmente glucosinolatos e antocianinas — do que as plantas que não receberam esse “aviso”. Além disso, foram capazes de distinguir entre o som do vento, da cigarrinha e das lagartas, produzindo compostos químicos muito mais intensamente na presença desse último.
Ora, se a A. thaliana é capaz de receber ondas sonoras, discriminá-las e responder àquelas ameaçadoras, não seria isso um tipo de audição? Pois bem, para as plantas também é interessante poder ouvir. Afinal, se lagartas começam a alimentar-se numa população silvestre de A. thaliana, as plantas que estão próximas podem entender esse som alarmante e preparar-se quimicamente para o ataque iminente.
Um vídeo em inglês da Universidade de Missouri comentando a pesquisa pode ser encontrado no YouTube:
Este experimento foi conduzido em Arabidopsis thaliana, uma planta que é considerada organismo-modelo para estudos em laboratório (assim como a mosca-das-frutas e o camundongo, seus equivalentes animais em pesquisa). Porém, é muito provável que outras espécies de plantas também tenham a habilidade de ouvir, afinal, isso é muito vantajoso, pois aumenta capacidade de lidar com adversidades e, consequentemente, a sobrevivência, de modo que provavelmente a habilidade de ouvir das plantas foi favorecida pela evolução.
Portanto, de agora em diante muito cuidado com o que fala perto da sua samambaia. Ela provavelmente está ouvindo tudo!