Linha de pesca embolada em uma gorgônia (Leptogorgia punicea). Foto: Jéssica Link |
Sabemos os impactos que o lixo pode gerar quando este não tem um destinado adequado, como contaminação de águas e solos, enchentes, vetor de doenças, entre outros. Assim como na terra, o mar não foge desses problemas. O mais agravante dessa situação, é que não sabemos o que está acontecendo no mundo subaquático, muito menos a dimensão do problema.
Quando o assunto se refere ao mar, geralmente temos pouco conhecimento das atividades que acontecem nesse ambiente. Conseguimos avistar em terra apenas algumas embarcações, isto porque estão próximas à costa, e mesmo próximas à costa, nem sempre conseguimos responder qual é o tipo de embarcação, o que fazem, para onde vão, entre outros. E quando o assunto se trata do que está debaixo d’água, fica ainda mais complicado.
Há uma infinidade de organismos desconhecidos pela ciência, bem como há uma infinidade de lixo desconhecido no mar. O lixo marinho é todo resíduo sólido que chega aos ambientes costeiros e marinhos, e possui origens diversas, como por exemplo, garrafas de vidro, garrafas plásticas, sacos plásticos, embalagem de produtos, utensílios domésticos, entre outros. E outra atividade que contribui significativamente como uma das fontes do lixo marinho, é a pesca, que abordarei com mais detalhes.
Uma ocorrência comum nas operações de pesca é o abandono, perda ou descarte de equipamentos e petrechos de pesca, como redes de emalhe, linha, anzol, chumbada, âncoras, entre outros. Esses petrechos de pesca perdidos, abandonados e/ou descartados (PP-APD) além de se tornarem lixo marinho, possuem a capacidade de continuar pescando, conhecida como pesca fantasma. Esse termo surgiu, pois, essa captura cumulativa de animais não é vista por nós, como também não sabemos onde está ocorrendo. A pesca fantasma tem um potencial de capturar organismos alvo e não alvo da pesca, uma vez que os animais presos servem de isca para os demais. Alguns exemplos são os caranguejos e lagostas, eles são atraídos pelos peixes presos na rede, mas geralmente ficam presos também, e acabam morrendo.
Rede fantasma cobrindo o costão rochoso. Foto: Jéssica Link |
São inúmeras as causas para o abandono e descarte de petrechos de pesca. Os principais são: condições climáticas adversas, equipamentos, colisão com embarcações, engate em recifes, rochas ou naufrágios, entrelaçamento com outras redes, falhas humanas, entre outros.
Outro agravante é o uso de materiais sintéticos na confecção dos petrechos, como por exemplo, o nylon. É o material mais difundido na composição dos petrechos atualmente e compõe a maioria das redes e linhas de pesca. É um plástico classificado como poliamida, um material barato e resistente, mas infelizmente, possui um tempo de decomposição no ambiente de aproximadamente 650 anos.
Além de peixes e caranguejos, animais marinhos de passagem são também capturados acidentalmente, como tartarugas, golfinhos e baleias. A rede de nylon quando estendida fica praticamente imperceptível, o que é perigoso até para banhistas e mergulhadores. Aves marinhas também são recorrentemente capturadas quando o petrecho está à deriva.
Caranguejo morto em rede fantasma. Foto: Jéssica Link |
Além da pesca fantasma, o lixo marinho também serve como substrato para o desenvolvimento de algumas espécies, porém quando transportados pelas correntes marinhas, este se torna um vetor de espécies exóticas. Quando a espécie exótica é uma competidora voraz e invasiva, causa um grande desequilíbrio ecológico local, muitas vezes, irreparável.
Outro impacto muitas vezes despercebido, é sobre os organismos bentônicos sésseis, os integrantes do ambiente recifal. Desde recifes de corais a costões rochosos, corais e esponjas, por exemplo, sofrem abrasão do seu tecido por alguns tipos de lixo marinho, causando uma parcial ou total morte da colônia. Esse tipo de impacto muitas vezes passa como menos preocupante quando nos referimos a megafauna, a mais cativante. Todavia, vale ressaltar que estes organismos possuem crescimento muito lento, e o impacto negativo a longo prazo nesses organismos estruturadores de recife, altera processos ecológicos importantes para a sobrevivência dos organismos que dependem deles, uma vez que os pescadores tendem a pescar em habitat com maior complexidade bentônica.
Este problema é reconhecido pelo FAOcomo uma ameaça global aos ecossistemas marinhos e costeiros desde a década de 80, porém ainda faltam muitos estudos e investimentos nessa área. Em passos lentos, boas práticas já estão sendo adotadas por alguns países desenvolvidos, na implementação de medidas preventivas, como o Código de Conduta para a Pesca Responsável. Além disso, há um esforço da tecnologia de pesca em tornar o material sintético biodegradável, a implementação de localizadores com sinal de GPS nas redes de pesca, entre outras ferramentas para evitar a perda total do petrecho. Também há cientistas preocupados com esse problema, como também interesse dos próprios pescadores em recuperar seus petrechos de pesca, pois uma vez perdido, o prejuízo econômico é duplicado. Fora a perda do petrecho em si, a pesca fantasma elimina os peixes que ele poderia estar pescando em outro momento. Uma armadilha não apenas ao ecossistema marinho, como também ao próprio homem.
Outro impacto muitas vezes despercebido, é sobre os organismos bentônicos sésseis, os integrantes do ambiente recifal. Desde recifes de corais a costões rochosos, corais e esponjas, por exemplo, sofrem abrasão do seu tecido por alguns tipos de lixo marinho, causando uma parcial ou total morte da colônia. Esse tipo de impacto muitas vezes passa como menos preocupante quando nos referimos a megafauna, a mais cativante. Todavia, vale ressaltar que estes organismos possuem crescimento muito lento, e o impacto negativo a longo prazo nesses organismos estruturadores de recife, altera processos ecológicos importantes para a sobrevivência dos organismos que dependem deles, uma vez que os pescadores tendem a pescar em habitat com maior complexidade bentônica.
Este problema é reconhecido pelo FAOcomo uma ameaça global aos ecossistemas marinhos e costeiros desde a década de 80, porém ainda faltam muitos estudos e investimentos nessa área. Em passos lentos, boas práticas já estão sendo adotadas por alguns países desenvolvidos, na implementação de medidas preventivas, como o Código de Conduta para a Pesca Responsável. Além disso, há um esforço da tecnologia de pesca em tornar o material sintético biodegradável, a implementação de localizadores com sinal de GPS nas redes de pesca, entre outras ferramentas para evitar a perda total do petrecho. Também há cientistas preocupados com esse problema, como também interesse dos próprios pescadores em recuperar seus petrechos de pesca, pois uma vez perdido, o prejuízo econômico é duplicado. Fora a perda do petrecho em si, a pesca fantasma elimina os peixes que ele poderia estar pescando em outro momento. Uma armadilha não apenas ao ecossistema marinho, como também ao próprio homem.